Praia de Faro, maré vazia
Manhã de agosto, 8:45, o relógio a
avisar que já caminhei 1.850 passos. Conheço esta praia com marés cheias,
vazias ou a meia haste, este termo é de quem não percebe nada de marés. Mas
hoje havia algo diferente. A extensão de areia molhada, em largura, era fora do
comum. A dureza da areia impressionava, os pés nunca se enterravam. A primeira
frase que me veio à cabeça foi: "isto é um calçadão imenso". Saquei uma
foto e publiquei no FB, com esse título.
Nunca fui ao Rio de Janeiro, mas já estive
em Fortaleza onde existe um longo calçadão de asfalto junto à praia, no qual
caminhei. Recordo esses passeios e também a imagem angustiante da poluição na praia
e na água. Havia de tudo, garrafas, latas, sacos de plástico, e outros objetos
conhecidos, enfim...
Deixei o Brasil e concentrei-me de
novo no que tinha ali à volta, o nosso mar, o calçadão de areia, pronto para receber
quem queria caminhar. Terá sido isso mesmo que as pessoas perceberam hoje na
Praia de Faro. Havia mais gente a caminhar do que estendida na areia. Entretanto,
apercebi-me que já estava a fazer o percurso inverso para o guarda sol.
Começo então a ver muitas pessoas na
zona de rebentação das ondas. Aproximei-me e não havia dúvidas, tentavam
apanhar conquilhas. Parei para observar melhor os movimentos que faziam:
apoiados no pé esquerdo, remexiam a areia com o direito em semicírculos para a
esquerda e para a direita. Não sei porquê, mas lembrei-me da cantiga popular açoriana:
"ponha qui o seu pezinho, devagar, devagarinho...". Cantei o refrão só
para mim, não pretendia afugentar as conquilhas. Observei que cada pessoa tinha
o seu próprio ritmo para remexer a areia. Uns mais lentos outros mais rápidos e
havia alguns em que a rotação do pé causava tonturas. Para esses, o "Ponha
Aqui o seu Pezinho" seria demasiado lento para acompanhar a captura dos
bivalves. Precisavam de mais speed.
Recordei-me de uma música brasileira
dos anos noventa, que esteve nos tops, o "Forró do Xenhenhem". Toquei-a
vezes sem conta em bares e festas. Ao ouvi-la de novo pensei: "é isto
mesmo, descobri uma nova forma de apanhar conquilhas."
Aqui vão as instruções:
1.
Antes
de iniciar a apanha, carregar a playlist no telemóvel e metê-lo no bolso de
trás dos calções; (convém ter as mãos livres para agarrar o marisco);
2.
Colocar
os auscultadores bluetooth nos ouvidos;
3.
Iniciar
a playlist com "Ponha Aqui o seu Pezinho” https://www.youtube.com/watch?v=g0most-AdMY e remexer a areia no ritmo certo;
4.
Quando
começar a sentir os bichos debaixo do pé, arrancar com o "Forró do Xenhenhem"
https://www.youtube.com/watch?v=X9He02LlKo8
e acelerar a rotação.
Sucesso garantido. “Está a conquilha
a monte”, como se diz cá no Algarve.
Boa apanha!
19/08/2020
Francisco Pinto
Forró do Xenhenhem, já não me lembrava da existência dessa música. Também ouvi muitas vezes lá na nossa casa!
ResponderEliminarNem eu me lembrava. De vez em quando regressam memórias fora da caixa. A música soa bem, agora é treinares o pé e as conquilhas a saltarem :)
ResponderEliminarConclusão da história, foste á conquilha,e deu para o lanche,? eu faço a rotação com os dois pés,mas já tenho tentado e não apanho nada, na próxima tentativa vou levar o telemóvel, e aceitar a tua sugestão
ResponderEliminarO lanche? Sim, imaginei as conquilhas, talvez com um verde gelado. Isso da rotação com os dois pés será já um nível profissional. E quem te segura quando rodas? :)
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