quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Praia de Faro, maré vazia

 

Praia de Faro, maré vazia

 

Manhã de agosto, 8:45, o relógio a avisar que já caminhei 1.850 passos. Conheço esta praia com marés cheias, vazias ou a meia haste, este termo é de quem não percebe nada de marés. Mas hoje havia algo diferente. A extensão de areia molhada, em largura, era fora do comum. A dureza da areia impressionava, os pés nunca se enterravam. A primeira frase que me veio à cabeça foi: "isto é um calçadão imenso". Saquei uma foto e publiquei no FB, com esse título.

 

Nunca fui ao Rio de Janeiro, mas já estive em Fortaleza onde existe um longo calçadão de asfalto junto à praia, no qual caminhei. Recordo esses passeios e também a imagem angustiante da poluição na praia e na água. Havia de tudo, garrafas, latas, sacos de plástico, e outros objetos conhecidos, enfim...

 

Deixei o Brasil e concentrei-me de novo no que tinha ali à volta, o nosso mar, o calçadão de areia, pronto para receber quem queria caminhar. Terá sido isso mesmo que as pessoas perceberam hoje na Praia de Faro. Havia mais gente a caminhar do que estendida na areia. Entretanto, apercebi-me que já estava a fazer o percurso inverso para o guarda sol.

 

Começo então a ver muitas pessoas na zona de rebentação das ondas. Aproximei-me e não havia dúvidas, tentavam apanhar conquilhas. Parei para observar melhor os movimentos que faziam: apoiados no pé esquerdo, remexiam a areia com o direito em semicírculos para a esquerda e para a direita. Não sei porquê, mas lembrei-me da cantiga popular açoriana: "ponha qui o seu pezinho, devagar, devagarinho...". Cantei o refrão só para mim, não pretendia afugentar as conquilhas. Observei que cada pessoa tinha o seu próprio ritmo para remexer a areia. Uns mais lentos outros mais rápidos e havia alguns em que a rotação do pé causava tonturas. Para esses, o "Ponha Aqui o seu Pezinho" seria demasiado lento para acompanhar a captura dos bivalves. Precisavam de mais speed.

 

Recordei-me de uma música brasileira dos anos noventa, que esteve nos tops, o "Forró do Xenhenhem". Toquei-a vezes sem conta em bares e festas. Ao ouvi-la de novo pensei: "é isto mesmo, descobri uma nova forma de apanhar conquilhas."

 

 Aqui vão as instruções:

 

1.     Antes de iniciar a apanha, carregar a playlist no telemóvel e metê-lo no bolso de trás dos calções; (convém ter as mãos livres para agarrar o marisco);

2.     Colocar os auscultadores bluetooth nos ouvidos;

3.     Iniciar a playlist com "Ponha Aqui o seu Pezinho” https://www.youtube.com/watch?v=g0most-AdMY e remexer a areia no ritmo certo;

4.     Quando começar a sentir os bichos debaixo do pé, arrancar com o "Forró do Xenhenhem" https://www.youtube.com/watch?v=X9He02LlKo8  e acelerar a rotação.

 

 

Sucesso garantido. “Está a conquilha a monte”, como se diz cá no Algarve.

Boa apanha!

 

19/08/2020

Francisco Pinto

4 comentários:

  1. Forró do Xenhenhem, já não me lembrava da existência dessa música. Também ouvi muitas vezes lá na nossa casa!

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  2. Nem eu me lembrava. De vez em quando regressam memórias fora da caixa. A música soa bem, agora é treinares o pé e as conquilhas a saltarem :)

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  3. Conclusão da história, foste á conquilha,e deu para o lanche,? eu faço a rotação com os dois pés,mas já tenho tentado e não apanho nada, na próxima tentativa vou levar o telemóvel, e aceitar a tua sugestão

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  4. O lanche? Sim, imaginei as conquilhas, talvez com um verde gelado. Isso da rotação com os dois pés será já um nível profissional. E quem te segura quando rodas? :)

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